Neste 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, a população trans não tem motivos para se orgulhar no país que mais mata travestis e transexuais no mundo. A Rede Trans Brasil marca a data com o lançamento dos dados do Censo Trans, uma pesquisa sobre o perfil da população de travestis e mulheres transexuais que mostra o contexto de violência e da ausência do Estado brasileiro na promoção da cidadania para a esta população.
O Censo Trans é produto de várias mãos de pessoas travestis e transexuais que arregaçaram as mangas no intuito de produzir um conjunto de dados e reflexões sobre o perfil socioeconômico e de violência que nós enfrentamos no Brasil. A pesquisa da Rede Trans Brasil teve os primeiros processos de construção em junho de 2017, na cidade de São Paulo. Foi um total de 1.161 questionários aplicados, em dez capitais brasileiras, sendo que os leitores têm, em mãos, a sua sistematização dos dados coletados.
A publicação é uma resposta ao contexto de ausência de dados do perfil socioeconômico da população de travestis e mulheres transexuais no Brasil, por parte dos órgãos competentes, a Rede Trans inicia uma discussão de um questionário contendo perguntas sobre o perfil de identidade de gênero, idade, cor/raça, moradia, escolaridade, condição de trabalho, conhecimento sobre nome social e nome civil, saúde, acesso a teste de HIV, prevenção, uso de drogas, serviço ambulatorial do processo transexualizador, uso de silicone industrial e discriminação por identidade de gênero.
A importância da produção de dados sobre pessoas trans
Quando abordamos as questões de trabalho, os dados do Censo Trans nos mostram que 89,5% das entrevistas pela pesquisa são profissionais do sexo. Os números nos indicam que o contexto de prostituição é uma realidade junto a população de pessoas trans, existindo uma necessidade urgente de pensar outras possibilidades para além da prostituição e provocando um questionamento: quais outras populações no Brasil tem a prostituição como uma única possibilidade de sobrevivência?
A autodeclaração de cor e raça mostra que 58,7% do total das respondentes do Censo Trans são pretas ou pardas; a escolaridade é outra questão que as autoridades e gestores de políticas públicas necessitam estar atentos: os dados mostram que 64,1% não possuem o ensino médio completo e que 33,9% não chegaram a concluir o ensino fundamental.
Sobre o contato com a violência e a discriminação em decorrência da identidade de gênero, as perguntas estão diretamente ligadas à violência sofrida em decorrência da identidade de gênero. 74,1% relataram que foram maltratadas em algum tipo de serviço de saúde; 67,7% foram expulsas de lugares públicos; 69,8% foram expulsas dos lugares onde moravam; 85,1% relatam já ter sofrido algum tipo de violência verbal; 77,8% relatam ter sofrido violência física; 72, 1% relataram ter sofrido violência sexual; 78,7% sentiu-se discriminada em busca de trabalho; 71,5% já foi discriminada ou demitida de um trabalho; 71,7% foram expulsas ou excluídas do ambiente familiar; 68,7% relatam agressão por policial; 64,3% foram expulsa de instituições educacionais; e 66,9% já foram exploradas no exercício do trabalho sexual.
O apoio do Fundo Positivo LGBTI+ foi de total importância para a conclusão do trabalho. Os dados que constam nesta publicação são frutos coletivos de reflexões de travestis e transexuais no intuito de provocar o Estado brasileiro acerca do contexto de desigualdade social que as pessoas trans no Brasil enfrentam com a ausência de incidência de políticas públicas pelo Estado.
A Rede Trans Brasil vem se consolidando como uma organização que, para além de fazer a incidência política no controle social, contribuindo na elaboração de políticas públicas para a população de travestis e transexuais com as esferas de governo, também vem produzindo saberes sobre a vivência trans no contexto brasileiro e esta publicação é fruto desses saberes, que são produzidos por pessoas trans.